sexta-feira, 29 de maio de 2009

Realizada hoje segunda reunião do Movimento Pró Cineclube


Aconteceu hoje, às 18h, no Auditório da Coordenadoria de Assuntos Culturais e Comunitários (CACC) da UFPI, a segunda reunião do Movimento Pró Cineclube. Este segundo encontro teve como objetivo estudar a prática cineclubista, discutir e definir programações, bem como as próximas sessões.
Na ocasião foram exibidos os curta metragens clássicos Leaving the Factory e Arrival Of a Train, de 1895 dos irmãos Lumiére;The Kiss (1896) de Thomas Edison; Um Homme de têtes (1898) e L’homme orchestre (1900) de George Méliès.
O movimento foi uma iniciativa de alguns professores da UFPI que sentiam a necessidade de um espaço para apreciar e discutir filmes de relevância social. Tem a sua frente a artista multimídia, Adriana Galvão, que é professora do Departamento de Artes e Música da UFPI.
A primeira reunião aconteceu no dia 20 de maio na sala de reuniões do Departamento de Fundamentos da Educação da UFPI (DEFE)e teve por objetivo agregar apreciadores da linguagem cinematrográfica e encontrar diretrizes para a criação de um cineclube na UFPI. Este primeiro encontro contou com a presença de 23 pessoas, dentre elas alunos e professores de vários departamentos da UFPI, todos amantes da arte cinematográfica.
“Considero uma grande vitória, pois embora pequena a divulgação, conseguimos agregar um grande número de amantes do cinema, foram 100 cartazes que corresponderam a 23 presenças”, disse Adriana Galvão em e-mail enviado aos participantes da primeira reunião.
Os cineclubes são associações sem fins lucrativos, um lugar de prática da democracia, com compromisso ético e cultural.
Conheça um pouco do perfil de Adriana Galvão em entrevista concedida à equipe de reportagem do Blog Célula Dois:



C.D: De onde vem o seu interesse pelo cinema?
A.G: Comecei como escultora já na época da graduação. Me fascinava o “poder” de modelar, descobrir uma forma dentro de algo bruto. Atuei como aderecista e cenógrafa de instituições diversas e meu interesse sempre foi pela investigação de novos materiais e novas linguagens. O trabalho do artista já é em si algo subjetivo e abstrato, pois requer uma formação incessante através da pesquisa e fundamentalmente da prática. Como artista multimídia tive um longo percurso repleto de experiências, que propiciaram novas descobertas a cada novo projeto, a cada nova idéia. Em determinado momento deste percurso de formação, aconteceu a fotografia, em virtude da necessidade de instrumentalização da técnica para aplicação em um projeto que tinha como foco a escultura, baseada nos trabalhos Habitáculos, de Felícia Lerner. As esculturas gigantes da artista compõem o único museu a céu aberto do Brasil, na cidade de Campos do Jordão/SP. Eu estava realmente incorporada ao projeto, mas a descoberta da fotografia foi “instantânea”. Foi quando percebi, me libertei sinceramente dos materiais clássicos, como o cinzél, formão, martelo, tintas e telas para passar a criar de forma imediata.
Em relação às técnicas tradicionais, a fotografia não exige um longo tempo para sua confecção, como uma escultura que leva dias para fazer, num trabalho exaustivo físico e mental. Na verdade foi um rendimento à tecnologia, pois ingressei de vez na era digital . Daí para o cinema foi uma conseqüência natural, influenciada também por uma grande amiga e cineasta Ananda Filippi.
C.D: Qual a sua experiência na área do cinema?
A.G: Meu primeiro filme foi em 2003 como assistente de maquiagem. Foi uma experiência inesquecível, uma primeira vez impecável! Foi a primeira vez que entrei atrás da câmera e, percebi como se fazia “a mágica”. Mais uma vez algo novo havia acontecido em minha carreira, mas nunca imaginei que fosse durar - devido à minha inquietude artística. Considero estudar e fazer cinema uma descoberta existencial. Foi através do cinema que pude exercitar todas as linguagens artísticas, principalmente em relação à aplicação dos fundamentos da plástica. Compor um cenário, trabalhar a modelação da luz, pintar um rosto, contar uma história. Assim como todo o percurso anterior, dentro do cinema foi uma experiência galgada no desempenho de várias funções como: figurinista, cenógrafa, diretora de arte, assistente de câmera, diretora de fotografia, operadora de câmera até chegar à direção. Durante esse tempo fiz alguns cursos isolados com os cineastas: Joel Pizzini, Michal Ruman,Valter Caira, Peter Baiestorf e Zé do Caixão. Nesse período, já havia formado alguns coletivos. Dentre eles, houve a Agave Produções Artísticas, um grupo experimental da UNICAMP, a V1 Produções Artísticas, Alocse Produções e outros, onde produzimos vários filmes com apoio da TV Unicamp. Paralelamente ao exercício de fazer cinema, passei a dar cursos pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Também desenvolvo um trabalho com arte-educação, e passei a aplicar o fazer cinematográfico na disciplina de Arte em escolas públicas do estado de São Paulo. Foi uma experiência incrível utilizar o cinema como aliado ao processo de ensino aprendizagem, pois o trabalho da equipe que se forma em torno de um objetivo comum, que é o filme pronto, deve ser coesa, dinâmica, homogenia. Houve uma verdadeira transformação nas atitudes, valores e pensamentos dos alunos. O projeto CurtaNAescola foi realizado entre 2005 e 2007, onde foram produzidos 9 curta metragens.
Ao longo de minha carreira participei de mais de 20 produções audiovisuais. Ano passado ministrei dois cursos bastante significativos, que resultaram em dois trabalhos: um de ficção, chamado Bella, e outro um documentário - ainda em fase de edição com previsão para lançamento este ano – que foi realizado no Assentamento XX de Novembro, Cordeirópolis/SP. O curioso é perceber que a maioria das famílias imigrantes são daqui, do nordeste, mas tem gente de todos os cantos do Brasil. Queria dizer que fazer cinema é possível, também, por ter ao meu lado um companheiro e parceiro cinematográfico, Alexandre dos Anjos, compositor e diretor de som de meus vídeos, que fornece-me todo o apoio e incentivo para trabalhar como cineasta.
C.D: Qual a sua avaliação sobre o mercado e as produções cinematográficas aqui no estado?
A.G: Esse é um tema de pesquisa bastante recente, que realizo com minha turma, na disciplina Cultura Popular aqui na UFPI. Nós vamos identificar e catalogar o que está sendo produzido de cultura popular aqui dentro de Teresina, por que não dá pra gente abranger o estado todo neste momento. Curiosamente o tema cinema foi rodado de mão em mão e ninguém queria então eu assumi essa parte. Nós lá do sudeste, não conhecemos nada daqui, só mesmo o boi, a culinária, o litoral, mas, realmente, a cultura regional do Piauí é amplamente desconhecida! Moro em Teresina desde janeiro deste ano, e até agora com a nova pesquisa conheço o trabalho do Grupo Mel de Abelha, que se formou na década de 80 e que era composto por: professor Luís Carlos Sales, Dácia Ibiapina, Valderi Duarte, Socorro Melo e Lorena Rego. Tem ainda o Torquato Neto com o cinema marginal que nós não podemos esquecer. Conheço os trabalhos do Douglas Machado que é um grande documentarista daqui, um pouco sobre o Alan Carneiro (in memorian). Contudo, ainda é muito cedo para formar uma opinião sobre o cinema produzido em Teresina, há pouca bibliografia e registros em acervo público. O que percebo, é uma preocupação em contar histórias da identidade cultural do povo nordestino a fim de preservar e exaltar sua existência. Agora, voltando ao Movimento Pró Cineclube, podemos considerá-lo uma retomada da produção e pesquisa sobre o cinema, que foi amplamente exercitado nas décadas de 80 e 90 por grupos, pessoas e instituições religiosas. Quanto ao mercado cinematográfico, é preciso urgente que se encontre uma política de implementação de salas de cinema, com programação equivalente aos grandes centros e a criação de salas para filmes de arte.
C.D: Pra você, cinema é?
A.G: É uma cachaça, você toma e nunca mais quer parar, é viciante. Cinema é a minha vida!

Sites relacionados:
Conselho Nacional de Cineclubes
Federação Internacional de Cineclubes

Confira vídeo de abertura



Texto e Fotos: Viviana Braga

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