quarta-feira, 13 de maio de 2009

Entrevista com a infectologista Rosania Maria sobre a gripe suína

No último dia 11 de maio, segunda-feira, a população teresinense foi pega de surpresa com a veiculação da suspeita de um caso de gripe suína ou gripe A no estado. O caso ainda não confirmado é de uma jovem recém chegada do estado da Pensilvânia nos EUA que já se encontra sob cuidados da equipe médica do Hospital de Doenças Tropicais Natan Portela, o HDIC. Em entrevista ao jornal da TV Clube, o secretário de saúde do estado, Assis Carvalho, informou que até no máximo sexta-feira deva sair o resultado dos exames da jovem.

Diante desse alerta conversamos com a médica infectologista, Rosania Maria de Araújo que esclareceu algumas questões pertinentes em relação à doença e sobre a possibilidade de uma proliferação do vírus no estado.

UFPI: O que é a gripe suína e como ela age no organismo do ser humano?
R.A: A gripe suína, na verdade o influenza A (H1N1) é um tipo de infecção respiratória causada pelo vírus influenza. Esse vírus faz parte uma família onde existem vários vírus diferentes todos causadores de gripe, mas que possuem porções de proteínas que os diferenciam uns dos outros. Justamente por isso que todo ano a gente fica suscetível a contrair uma gripe, por que esses vírus sofrem mutações e o organismo entra sempre em contato esses novos vírus. Todo ano esses vírus vão se modificando, mudando de uma região para outra, de uma espécie para outra, como é o caso da gripe suína. Então a gripe suína nada mais do que uma infecção causada por um vírus de gripe, mas com a diferença de ter sido advindo dos porcos.
Quando entramos em contato com qualquer patógeno, vírus ou bactérias o organismo tem a função de defender a gente. O vírus age invadindo as nossas células de defesa e uma parte dos sintomas, na verdade, não são originários da ação viral, mas sim ação do próprio organismo, como a febre, por exemplo, a tosse, às vezes até complicação com pneumonia podem não ser ações diretas do vírus, mas defesas do nosso organismo que pra matar o vírus acaba lesando o nosso próprio corpo.

UFPI: O que diferencia a gripe suína de uma gripe comum?
R.A: O que diferencia principalmente é a partícula viral, mas em termos de contagiosidade ele tem a mesma capacidade de infecção dos outros vírus de gripe. E devido ser um vírus novo, sua capacidade de mortalidade chega a ser vinte vezes maior que um vírus comum.

UFPI: Como as pessoas podem se prevenir da doença?
R.A: Aqui no Piauí o que a gente tem que ter a preocupação é que por ser uma doença que é importada nossa preocupação com a população se restringe a confiar nas medidas governamentais, na vigilância sanitária no sentido de tá monitorando as pessoas que chegam de foram, por que elas é que servirão como veículo para o vírus entrar no estado. Então se não a contato com pessoas que tiveram em lugares com casos da doença a gente não tem nenhum risco. E claro que também é fundamental manter a higiene pessoal, como lavar as mãos por exemplo.

UFPI: O uso de máscaras adianta?
R.A: Tive a notícia de que todos os pacientes e funcionários do HDIC estavam usando máscaras e eu fiz até uma crítica sobre isso por que na verdade aquilo foi um desserviço no sentido de educação e saúde. O uso da máscara é restrito pra quem vai lidar direto com o paciente. Inclusive as máscaras podem servir como veículo pra infecção. A pessoa que passa o dia inteiro com uma máscara ela pode acabar se contaminando com bactérias e outros problemas de saúde. Na verdade a máscara protege, mas não impede já que nela há poros por onde os vírus podem adentrar.

UFPI: Que lugares as pessoas devem procurar no caso de suspeitas?
R.A: As pessoas com suspeitas são encaminhadas para o HDIC. Inicialmente a população tem um estigma de procurar diretamente o HDIC, por isso as instituições privadas que são mais procuradas, como por exemplo, o Hospital São Marcos que é onde eu trabalho, tem deixado notificações informando aos pacientes como eles devem proceder no caso de alguma suspeita.

UFPI: Teresina está preparada para atender pessoas infectadas pelo vírus influenza?
R.A: Levando em conta que Teresina é um pólo de saúde, onde os grandes hospitais já tem infectologistas, tem um aparato de medicação, a gente tem sim um preparo. O que tem que se perguntar é se a população tem educação suficiente para atender as recomendações da vigilância sanitária. Por exemplo, uma pessoa que tenha chegado de viagem internacional recebe um formulário, um protocolo e sempre fica sendo contactada por telefone e fica sob uma orientação de quarentena, no mínimo cinco dias ela tem que deve permanecer em casa e o que ocorre muitas vezes é que as pessoa são um pouco desafiadoras e desobedecem as recomendações, então é de fundamental importância que haja uma contribuição por parte da população.

UFPI: Como é feito o tratamento de pessoas infectadas pelo vírus?
R.A: É feito assim como na grande maioria dos casos de infecções gripais. O profissional faz um diagnóstico do ponto de vista da evolução da doença, e dependendo do quadro em que se encontra o paciente é que feito o tratamento. No caso de um paciente com um quadro mais evoluído é passado um antiviral, monitoração da febre, hidratação e repouso.

UFPI: Com a suspeita desse caso em Teresina, você acha que a população tem motivos concretos para entrar em pânico?
R.A: É necessário sim uma vigilância, mas como essa paciente não teve grande circulação na cidade e caso não haja nem uma suspeita entre as pessoas que tiverem maior contato com ela, é bem possível que pare por aí mesmo. Então comparado com outras doenças que já registram alguns surtos como a meningite a e a dengue, o influenza A preocupa bem menos, portanto, não há motivos para pânico.

Ouça parte do áudio da entrevista clicando aqui

Veja foto da entrevistada (arquivo pessoal)

Postado por: Viviana Braga

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